domingo, 30 de setembro de 2012

Aproximidade

...em tempos idos, as vizinhas vinham ás suas janelas aguçar a língua como se dizia! Nesse comportamento roedor de entre linhas o que se podia julgar coscuvilhice, era uma pratica para saciar a fome de falar fosse lá do que fosse, que por vezes de tudo, de todos menos delas próprias mas que mesmo assim gastavam o tempo a saber, a contar, e nem sempre era para falar mal, mas sim, acrescentar virgulas e pontos que dessem outro ênfase aos temáticos acontecimentos da banalidade no seu quotidiano. Era a rústica rede informativa dos tempos da  minha infância.Censuravam, escarneciam, caluniavam no pior, e no melhor transferiam o seu conhecimento, a sua sabedoria básica ou de valor acrescentado e sabia-mos de antemão que bastava dar o grito de alerta, que a comitiva se unia e se formava um exército de defesa, ou não, dependeria de cada questão, eu cresci assim.Num meio fantástico onde as emoções eram que nem as marés, cíclicas! e aprendíamos a ouvir, a conversar, a rir, sem interrogações ao tempo, nem a nada, era ser simplesmente, estar simplesmente ali.Na busca de um aperfeiçoamento social criamos as nossas próprias barreiras, curtamos com velhos costumes de aproximidade e agora falta-nos o eco, um eco caloroso de que era-mos feitos e fazia-mos parte. A vida era partilhada e assistida, hoje é singular isolada e este silencio actual de pratica de vida não nos tornará nunca melhores mas mais carentes e deprimidos que nunca, pois falta-nos os laços, os diálogos, as antigas práticas não da sua totalidade mas da aliena saudável da abertura com que a vida era dita e feita.