segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O apartar social

...lembro-me perfeitamente dos convívios familiares que acresciam lá e casa, vinha a família, vinham os amigos depois os vizinhos, os amigos deles que traziam os respectivos cães, pássaros e ate as tartarugas raras vindas do estrangeiro, tudo era pretexto para familirizar e dar méritos de reconhecimento. Era um culminar de prazeres diversos, os petiscos, a algazarra o pezinho de dança, as fotografias sem fim, os casalinhos alinhados pelas famílias, baptizados e casamentos que se agendavam ali e todos se juntavam na cozinha dias antes se a cerimónia fosse a séria. Era um encher a barriga de tudo, daquilo que se comia e daquilo que nos alimentava a alma. Eram assim os convívios lá de casa e eram assim para serem válidos, senão não eram. Crescíamos apar dessa dinâmica e quando já éramos crescidos as dinâmicas já tinham mudado, já ninguém achava piada as arcaicas formas de estarmos perto uns dos outros, eram agora as grandes viagens, os novos carros topo de gama, vivendas surreais, então cursos para ser doutor era uma coisa louca, roupas de marca e um sem fim de tecnologias que dava estatuto financeiro a quem as tivesse, tornaram-se assim os novos temas de conversa, sem o interesse guardado carinhosamente que era perguntar pelos amigos e os demais parentescos. Desenhamos este processo de vida muito favorável aos dias de hoje, sempre rodeados de nós e mais nós e cada vez mais, sem encontro no colectivo, tornando as famílias deficientes cujos pilares não resistem a uma dor de dentes, mas garantem que estão inseridos na sociedade e não fora dela. Servimos como moldes de uma sociedade moderna que nos encheu de tudo, e nós deixamos que ela nos tivesse tirado os que nos enchiam de alma, porque esse aconchego temporal não volta mais, podemos fazer grandes esforços e conseguir réplicas de um aglomerado risonho de pessoas aparentemente felizes, mas genuíno e tão verdadeiro como chegamos a ser, acho que não, perdeu-se isso na geração que me antecedeu... e mais, perderam-se os verdadeiros valores que nos mantinham unidos, e esquecem que nenhuma sociedade resiste a isso.

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